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Saúde é Vital – Abril/2019
“Nem toda depressão é igual”
Ricardo Alberto Moreno
  • Conheça a distimia, um tipo mais leve da depressão.

depressão é uma doença que afeta mais de 350 milhões de pessoas de todas as idades, gêneros e etnias, de acordo com a Organização Mundial de Saúde. Embora o risco de ter depressão seja maior entre as pessoas com histórico da doença na família, maus hábitos comportamentais (como dormir pouco e cultivar pensamentos negativos) também podem favorecer uma crise ou agravar ainda mais um quadro já em desenvolvimento.

“Adotar atitudes mais saudáveis protegem seu corpo contra os sintomas da depressão, mas é preciso buscar tratamento depois que a doença se instala”, afirma o psiquiatra Ricardo Alberto Moreno, professor doutor do Instituto de Psiquiatria da USP. Um dos principais problemas de quem sofre com este doença é acreditar que ele vai desaparecer por conta própria ou assumir que o mal-estar é permanente e faz parte da personalidade. Nada disso: se você apresentar, ao menos, um dos sinais listados a seguir e achar que ele tem prejudicado a sua rotina, aproveite para procurar um especialista.

Dormir pouco

“A falta do sono é um dos gatilhos para o aparecimento da depressão”, afirma o psiquiatra Ricardo Alberto Moreno, professor doutor do Instituto de Psiquiatria da USP. Segundo o especialista, o organismo é regido pelo claro e escuro, ou seja, dia e noite. Assim, do ponto de vista biológico, você está programado para a realização de atividades no período diurno e para o repouso no período noturno. “Inverter essa ordem ou reduzir o tempo que deveria ser destinado ao sono provoca desequilíbrios físicos e psicológicos”, diz.

Enquanto dorme, o seu corpo libera hormônios, a atividade cerebral sofre alterações e a temperatura varia para permitir um bom desempenho das tarefas ao acordar. Interromper esse ciclo, portanto, pode afetar o metabolismo como um todo e servir de gatilho à depressão. O cuidado especial deve ficar por conta dos mais jovens. “Com uma rotina tão agitada e diante de tantos estímulos, como celular, computador e televisão, o sono tem sido deixado em segundo plano”, diz o especialista.

Além de favorecer a depressão por privar o corpo do tempo de descanso necessário para a realização de diversos processos fisiológicos, a insônia por si só está ligada a problemas orgânicos ou psíquicos. “As duas principais causas da dificuldade de pegar no sono são produção inadequada de serotonina, substância química que permite a transmissão de informações entre os neurônios, e estresse”, diz o psiquiatra Ricardo.

A psiquiatra Eutímia Brandão de Almeida Prado, do Hospital Universitário de Brasília, complementa dizendo ainda que a insônia também é um dos critérios para o diagnóstico da depressão. “As alterações neuroendócrinas que o paciente sofre geralmente afetam sua capacidade de dormir”, afirma. O resultado, segundo ela, é um agravamento das alterações de humor.

Sofrimento antecipado

“Sofrer por antecipação pode precipitar um quadro de depressão”, afirma a especialista Eutímia. Momentos de ansiedade e de estresse não são restritos a uma ou outra pessoa, mas passar por isso com frequência e cultivar pensamentos pessimistas sobre o futuro pode favorecer o desenvolvimento da doença. Pessoas com essa característica costumam ser insatisfeitas e nem sempre aproveitam plenamente ocasiões de prazer. Enquanto em alguns casos o sofrimento antecipado é decorrente da necessidade de controle sobre o que acontece, típico traço de uma personalidade insegura, em outros ele se torna paralisante, concretizando um problema.

Perda de apetite

Comer não é apenas uma forma de repor as energias perdidas ao longo do dia. “O hábito também está associado à sensação de prazer proporcionada pelo sabor e pela temperatura dos alimentos”, afirma o psiquiatra Ricardo. Quem começa a entrar em um quadro depressivo, entretanto, deixa de sentir esse prazer, o que afeta diretamente seu apetite. De acordo com o especialista, são raros os casos em que o paciente passa a sentir mais fome já que a comida não ameniza sua insatisfação.

A psiquiatra Eutímia afirma que isso faz parte de um quatro de anedonia ou incapacidade de sentir prazer. “A perda de apetite é um traço característico, mas a pessoa em depressão não se sente motivada a fazer nada daquilo que fazia anteriormente”, explica.

Perfeccionismo

Querer as coisas do seu jeito e se apegar aos detalhes mais singelos pode não ser problema, mas quando se torna uma compulsão ou obsessão, pode favorecer a depressão. “Uma pessoa escrava do perfeccionismo sofre quando seu planejamento não dá certo ou não fica, no mínimo, de acordo com o esperado”, afirma o psiquiatra Ricardo. Segundo ele, a constante frustração de quem estabelece metas mais altas do que pode alcançar não é saudável. “Seja criterioso com o que faz e veja o fracasso como um aprendizado, e não como um problema”.

Variação de humor

“Todos os transtornos depressivos são caracterizados por variações de humor”, diz a psiquiatra Eutímia. Na maior parte dos casos, o indivíduo permanece em um estado de tristeza constante, mas, no caso da depressão bipolar, há oscilações entre estados de tristeza e euforia. O diagnóstico de depressão ganha força quando as variações se tornam persistentes e duram mais de 15 dias.

Segundo ela, apenas em uma consulta com um profissional é possível definir se as alterações de humor são normais ou se tornaram uma patologia. “Todos sofremos mudanças de humor ao longo do dia, mas quando isso começa a se tornar um fator limitante, ou seja, começa a impedir a realização das tarefas rotineiras, então o quadro precisa de tratamento”, afirma.

Solidão

“A solidão se torna um problema quando repercute no desenvolvimento social ou profissional”, afirma a psiquiatra Eutímia. Segundo a especialista, algumas pessoas gostam de ficar sozinhas e conseguem tornar esse momento produtivo, o que não caracteriza problema algum. O quadro muda apenas quando você evita situações por precisar interagir ou achar que a segurança do isolamento é sempre melhor do que a insegurança que ele pode sentir no meio social. O comportamento é uma armadilha para a depressão e precisa de tratamento.

Conheça a distimia, um tipo mais leve da depressão

Posted by: O ESTADO DE SÃO PAULO – 05/08/2017

Os sintomas são os mesmos da depressão maior, porém mais brandos e com longa duração de tempo

Diferente de quem tem depressão, o distímico continua a realizar as atividades do dia, mas com qualidade rebaixada.

Diferente de quem tem depressão, o distímico continua a realizar as atividades do dia, mas com qualidade rebaixada. Foto: Pixabay

Você tem se percebido mais pessimista, melancólico ou impaciente? Sente que é necessário um esforço muito grande para fazer as atividades do dia a dia e fica irritado com facilidade?

Se esses sintomas estão se prologando por meses ou anos, talvez seja um sinal de distimia, um tipo de depressão leve e crônica que pode desencadear um transtorno maior.

Mas calma que ‘crônico’ não significa grave. O termo vem de ‘cronologia’ e é utilizado porque a doença se prolonga por mais tempo, cerca de dois anos.

“Ela começa com sintomas típicos da depressão, porém mais leves, de longa duração e bem demarcados, ou seja, a pessoa consegue definir quando está bem e quando não está”, explica o psiquiatra Ricardo Alberto Moreno, coordenador do Programa de Transtornos Afetivos (Gruda) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).

Embora os sintomas de tristeza, melancolia, falta de apetite ou de vontade de realizar atividades possam aparecer de vez em quando, é a duração e a frequência deles que vai determinar a distimia. Uma pessoa distímica pode passar dois ou três dias por esses momentos e depois melhorar, mas voltar a senti-los em poucos dias.

Antônio Geraldo da Silva, diretor tesoureiro da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e presidente eleito da Associação Psiquiátrica da América Latina, diz que a distimia é uma doença que pode acometer qualquer pessoa em qualquer fase da vida. “Doenças psiquiátricas ocorrem porque o cérebro adoece. Isso tem uma característica genética e em algum momento da vida esse quadro pode aparecer”, afirma.

O estresse também é um fator de risco para episódios de depressão, mas não estamos falando do estresse cotidiano causado pelo trânsito, trabalho ou contas a pagar. “É o estresse que causa um impacto muito grande na pessoa e, geralmente, ela não tem capacidade para absorvê-lo”, alerta Ricardo Moreno. O especialista aponta que todos sofrem com estresse, mas muitos conseguem suportar e são poucos os que deprimem por conta dele: apenas 18%.

Crianças e pré-adolescentes que tiveram experiências traumáticas também têm maior vulnerabilidade para depressão, que pode iniciar com a distimia. Desde essa fase da vida, é preciso estar atento para evitar o estresse tóxico em crianças.

Distimia versus depressão.

Enquanto a depressão, sobre a qual ouvimos falar com frequência, afasta as pessoas do convívio social e do trabalho, pacientes distímicos seguem uma vida quase normal. “A pessoa continua trabalhando, produzindo, estudando, mas com qualidade de vida rebaixada, sente tristeza, desânimo e desinteresse”, explica Silva.

A distimia também é conhecida como a doença do mau humor, uma vez que a fácil irritabilidade é um dos sintomas. “A pessoa é tida como sistemática, fechada, séria e cheia de manias. Isso pode ser confundido com a maneira de ser e acabam normalizando algo que não é normal, é doença”, alerta o especialista da ABP. Por achar que faz parte da personalidade, a maior parte das pessoas com esse transtorno não busca tratamento.

Mas é preciso atenção à doença, uma vez que a distimia pode levar à depressão maior. “A maioria dos pacientes, com o tempo, apresenta episódios depressivos mais graves com todos os sintomas característicos. Talvez 90% dos casos evoluem para esses episódios”, diz o psiquiatra da USP.

Como identificar a distimia?

Além dos sintomas leves de depressão que duram muito tempo, os distímicos vão somando pequenas perdas que, ao longo do tempo, se tornam muitas. Pode ser nos relacionamentos, sofrimentos ou excesso de trabalho. É preciso verificar se esse acúmulo ocorre e como a pessoa lida com ele.

Outra dica é quantificar os estágios de ânimo, disposição e humor. Contar quantos dias você está bem ou mal, alegre ou triste é importante para saber se esses sintomas são naturais ou se estão se prolongando mais do que o normal.

Se a insatisfação, impaciência, melancolia e pessimismo começarem a se repetir e durar por semanas, meses ou anos é bom procurar ajuda. A distimia tem cura, e o tratamento é feito com antidepressivos e psicoterapia.

Os especialistas afirmam que os antidepressivos não causam dependência, desde que sejam prescritos por profissionais capacitados, pois há protocolo de dose e tempo a ser seguido.

  • Bactérias do intestino podem estar ligadas a depressão.

Posted by: Agência Canal Veiculação in Artigos 5 de julho de 2016.

As bactérias protetoras do intestino, quando não estão balanceadas, podem estar ligadas ao descontrole da saúde mental.

Um estudo americano publicado no mês passado mostra que a relação entre o intestino e o sistema nervoso possa ser mais importante do que se imagina. Foi identificado um grupo de bactérias presentes em nossa flora intestinal que se “alimenta” apenas de substâncias químicas importantes para o cérebro. Estas bactérias consomem um neurotransmissor que reduz a excitabilidade do cérebro e em última análise “acalma” os nossos “nervos”. Isso significa que essas bactérias podem estar sobrevivendo às custas de nutrientes importantes para o funcionamento do cérebro e interferindo com doenças como a ansiedade e depressão.

“Embora descobertas como estas não tenham o potencial de encontrar a cura de doenças graves e crônicas como a depressão, elas podem ser importantes no conhecimento de como estas doenças se estabelecem e progridem bem como abrir um campo importante quanto a novos tratamentos, por exemplo, com moduladores da flora intestinal, que é algo que até algum tempo atrás não fazia parte do arsenal terapêutico de pacientes deprimidos”, comenta o psiquiatra Dr. Diego Tavares, da capital paulista.

  • Tem palpitação? O que faz seu coração bater pode ser um perigo.

Posted by Portal UOL Notícias em 16 de Setembro de 2016.

O que faz o seu coração bater mais forte? Ver a pessoa amada, subir uma escada, ficar sob pressão? Normalmente, o coração fica acelerado depois de uma emoção ou esforço físico fortes.

Mas o que faz o coração acelerar nem sempre é um bom sinal. Quando a taquicardia se torna frequente pode indicar transtornos de ansiedade ou problemas cardíacos.

Há algumas semanas, a engenheira ambiental Bianca*, 24, começou a sentir o coração disparar sem motivo aparente. A primeira vez foi no escritório onde trabalha em São Paulo (SP). “A sensação é de sufoco, de coração acelerado, de que eu preciso sair de onde estou. Eu tento controlar, mas piora porque eu fico apreensiva”, conta.

Quando é físico e quando é emocional?

Saber diferenciar o motivo da aceleração cardíaca nem sempre é fácil e pode confundir na hora de buscar ajuda profissional. A dica do cardiologista Ricardo Kuniyoshi, diretor científico da Sobrac (Sociedade Brasileira de Arritmias Cardíacas) é observar o que acontece antes e durante a sensação de taquicardia.

“Normalmente quem tem a doença cardíaca tem palpitações não causadas por tensão. Já as que tem palpitações sem ter uma doença, geralmente são muito nervosas, ansiosas, tem história de medos e fobias”, explica o cardiologista.

Quando a palpitação vem acompanhada de outros sintomas, como dor intensa no peito, falta de ar, palidez e desmaios, pode ser um sinal de algo mais grave como um infarto. Nestes casos, é essencial procurar um serviço de emergência o quanto antes. Se os sintomas não são tão graves, vale procurar um cardiologista especialista em arritmias, que pedirá exames para comprovar se há algum problema no coração.

Ter arritmia nem sempre é sinal de gravidade. Pode ser um pequeno defeito elétrico no coração até uma doença mais avançada que provoca um transtorno. Pode ser genético, mas nem sempre é hereditário”. Ricardo Kuniyoshi, diretor científico da Sobrac

Porém, como é difícil avaliar onde está a arritmia, já que o coração é composto por quatro câmaras, e a doença pode estar instalada em qualquer uma delas, é necessário fazer exames específicos para confirmação.

O mais recomendado é o eletrocardiograma –aqueles eletrodos ‘colados’ no peito que ficam mostrando o registro elétrico do coração. O teste de esteira ou o uso de aparelhos portáteis, como o holter, que monitoram as pulsações e o ritmo do coração também conseguem identificar se há arritmia ou não.

“Há várias formas de detectar e tratar arritmias, desde não fazer nada se for benigna até oferecer medicamentos ou partir para procedimentos invasivos”, afirma o cardiologista.

Em alguns casos mais graves, é indicada a introdução de um marcapasso comum ou de um do tipo cardiodesfibrilador, que emite pequenos choques no coração quando reconhece a arritmia.

Apesar de parecer uma saída natural procurar por um cardiologista ao sentir a taquicardia, em grande parte dos casos, o sintoma tem relação com problemas emocionais, especialmente ansiedade e síndrome do pânico.

Remédio é a solução?
Nestes casos, a sensação de sufoco pode ser minimizada em sessões de psicoterapia e com antidepressivos ou ansiolíticos receitados por um psiquiatra.

Quando a ansiedade chega a um ponto em que a pessoa não consegue fazer as tarefas normais, ou tem muito medo de tudo, existe um transtorno cerebral que causa a produção de mais adrenalina que o normal. O eterno estado de alerta causa taquicardia, falta de ar e tontura, mas pode ser tratado com medicamentos e psicoterapia.

Diego Tavares, pesquisador do Grupo de Estudos de Doenças Afetivas da USP

O tratamento com remédios visa a desligar o sensor de pânico do ansioso, mas deve ser feito com parcimônia.

“Quando feito um bom tratamento, modifica o cérebro da pessoa, estabilizando o sistema nervoso até o momento de retirar o remédio e a pessoa não sofrer mais com pânico ou ansiedade. O antidepressivo é mais seguro porque não causa vício, já o calmante pode causar, tanto que isso já se tornou um problema de saúde pública. O ideal é aliar o tratamento com a psicoterapia”, afirma Tavares.

Mas até chegar a psicoterapia pode levar tempo porque é comum achar que a taquicardia é apenas o indício de “um dia ruim” não a consequência de uma sequela emocional, afirma o psicólogo Anderson Zenidarci, diretor do Centro de Estudos de Psicologia, Psicossomática e áreas afins (CEPPA-SP).

Ansiedade: mais comum do que parece.

“Toda vez que estamos ansiosos nos sentidos ameaçados. É um mecanismo de fuga ou de enfrentamento que pode causar taquicardia, mãos frias, tremores típicos do transtorno de ansiedade. Em outros casos, pode causar crises de pânico e a sensação de morte iminente”

Anderson Zenidarci, diretor do Centro de Estudos de Psicologia, Psicossomática e áreas afins (CEPPA-SP)

Bianca conta que a sensação é realmente essa: “Estava dentro do vestiário da academia, onde estava muito fechado e quente. Comecei a sentir o coração disparar e minha mente ficou trabalhando desesperadamente para conter aquilo. Fiquei me questionando, me deu um desespero e uma sensação de falta de controle. Chorei”, conta.

Em casos assim, a psicoterapia trabalha com a quebra do padrão de pensamento que causa medo e insegurança e consequentemente põe fim às reações físicas desagradáveis, explica Zenidarci.

Bianca marcou uma consulta com um cardiologista e vai começar a fazer terapia.

“Eu me cobro muito. Tenho um trabalho que eu gosto, uma família bacana. Então ficava me perguntando o que é isso, se é uma crise de ansiedade. Vou ao psicólogo porque quero entender os sintomas, entender o que posso fazer para controlar isso. Também vou a um cardiologista para ver se está tudo bem”, disse.

(*Bianca é um nome fictício)

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